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sobre um dia ansioso e a somatização pura dos sentimentos

eu quero parar de existir no mundo e que o mundo pare de existir em mim meu coração foi reduzido à bolinha de gude mas mantem o mesmo volume parece que se eu não gritar minha garganta explode explode não, estoura porque é mais doloroso que libertador e se minha cabeça parasse um pouco de rodar, quem sabe eu conseguiria ficar quieta sem sentir esse ardor

white noise (2020)

sinto falta dos meus sonhos capitalistas e de quando o diálogo da minha cabeça não sufocava quando não precisava do silêncio absoluto pra ficar em paz (e que ironia, foi escrevendo essa frase que o silêncio se rompeu junto com a suspensão do aperto no meu peito) quando a solidão era confortável porque era conversa e não fuga e agora nenhum lugar no mundo parece solitário o suficiente

Tenho meus cadernos (2020)

Se eu confio que minhas pernas andaram tanto Por que minha cabeça continua no lugar? Em nuvens turvas entre as límpidas Parando só um momento pra respirar Por que a porta fica fechada o tempo todo Se quando passam silhuetas sinto pesar? Se doem meus olhos É porque eles vêem sempre o mesmo ponto De colisão, de centro, de self? Como posso saber se sou eu Se meu rosto me deixa sem ar Se só vejo meus olhos pra tudo se deslocar Se sento e se choro porque não sei o que definir Se sou um nome, um número ou um devir Se me sinto devir com a percussão Mas o percurso do rio parece não seguir Tenho meus cadernos Perdidos, mofados, guardados e empilhados Talvez eu seja só Página, tinta, grafite e pó

Sem título (2020)

O que eu deixei pra trás Ainda reverbera no mal-estar Na minha mandíbula O que me mata É ver o cansaço delas Escondido atrás dos murmúrios da meia-vida da paciência (por um fio) Que depois de ir embora é mantida Como no milagre divino Imaculadamente concebida Pra manter nos eixos Quem força tanta despedida De si, de sonhos, de carne ativa Que vira só ventre, só ventre que brilha Doído, enjoado, obrigado à partilha Que dói no alvoroço, no embrulho da briga E nas lágrimas de saber que mesmo no amor Não vai ser compreendida

Sem título (2019)

Minha paixão Ta nos troféus cantados Na pele bronzeada No sorriso aberto No cinza do céu misturando com concreto       (que às vezes é bom, também) No suor do verão E na fadiga do andar Nos olhares oblíquos E pra mim tão ingênuos E tão tristes na neblina da alegria Que quase parecem as janelas que iluminam a chuva da Paulista Mas se tem uma coisa que a minha paixão não é É fácil Ela mais rápido está nos passos ritmados Nos olhos fechados Nos objetos deixados Do que no toque, olhar e boca Não é nem confortável imaginar Não é possível de conceber

Nabucodonosor (2019)

O verde e o cinza As copas como os cabelos Era tão mais bonito Com você aqui O som A anunciação Os pingos E o trovão Treme tudo As pálpebras e o coração O terremoto do medo Espalha e leva por tanta extensão Sozinha A paz e o temor de mãos dadas Não há um sem o outro Mas quando andam juntos aperta Na angústia que faz perder o ar Que clama pelo toque que eu não sei pedir E peço a mim mesma o único toque que sei me dar A mão que bate é a mesma que afaga